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Você já mediu seu nível de cromo e cobalto no corpo?

Presentes em vários alimentos, o cromo e o cobalto são essenciais para manter o equilíbrio do organismo. Mas quem usa próteses de metal, por exemplo, pode estar com um nível elevado desses elementos químicos – que em excesso se tornam tóxicos

 

A indústria de dispositivos médicos, que são inseridos no corpo humano para melhorar sua qualidade de vida e garantir até mesmo sua sobrevivência, está mais em alta do que nunca. São estentes, marca-passos, métodos contraceptivos, aparelhos ortodônticos, próteses ortopédicas etc. – todos aprovados pelos órgãos reguladores e frequentemente indicados pelos cirurgiões. Mas o que muita gente não sabe é que nem todo dispositivo é livre de riscos para os pacientes (sobre isso, a Netflix lançou o documentário “Operação Enganosa”). De acordo com o médico ortopedista Lafayette Lage, tem muita gente com próteses antigas de quadril e que pode estar sofrendo os efeitos tóxicos do excesso de cromo e cobalto no organismo – elementos que se desprendem ao longo dos anos, com a movimentação da prótese, e que podem causar uma série de efeitos adversos, como déficit cognitivo, perda de memória, depressão, doenças pulmonares, reações inflamatórias, impacto no sistema imunológico etc.

“Pouquíssimos médicos solicitam exames para analisar os níveis de cromo e cobalto no organismo de pacientes que usam próteses de metal, mas é importantíssimo. Níveis elevados de cobalto podem desencadear uma infinidade de sintomas, incluindo cardiomiopatia, hipotireoidismo, disfunção cognitiva, neuropatia e fadiga. Principalmente quem usa prótese há mais de cinco anos, deve ter aquelas peças inteiras, próteses tradicionais que substituíam não só a parte do osso que estava causando dor, mas também osso bom, que não tinha problema algum. Hoje em dia, com o avanço da ciência e muitos estudos empreendidos, utilizamos próteses bem menores nas cirurgias de Resurfacing. Mas ainda tem paciente com um tipo de prótese que foi retirada do mercado há alguns anos, a ‘Big Head’”, diz Lage.

Essa prótese foi bastante usada entre 2007 e 2012, mas com o tempo se provou um verdadeiro fracasso, porque apresentou sérios problemas. Evidentemente, ela já foi retirada do mercado, mas há pessoas que estão em risco e precisam trocá-las mesmo que ainda não tenham apresentado qualquer sintoma adverso (cirurgia de revisão ou substituição da peça). “A má reputação da ‘Big Head’ acabou respingando injustamente sobre a prótese de Resurfacing. Ambas são de metal-metal, mas enquanto a primeira é uma peça grande, vulnerável a riscos que poderiam liberar ainda mais metal e oxidar com o tempo no encaixe do componente femoral e a cabeça do fêmur (cone), a prótese de Resurfacing é pequena, do tamanho de uma lâmpada de led tradicional e seu soquete”.

O especialista explica que, em se tratando de Resurfacing, apenas uma prótese se mostrou inviável com o passar do tempo (modelo ASR), enquanto a maioria das Big Head (colo longo) apresentaram problemas e foram retiradas do mercado. “Do ponto de vista do paciente, principalmente quando se trata de um adulto jovem e ativo, é bem melhor preservar a estrutura boa do osso e trocar apenas a parte lesionada da cabeça do fêmur. Isso, até agora, só a cirurgia de Resurfacing metal-metal tem proporcionado. Talvez num futuro próximo, essas peças possam ser substituídas por cerâmica. Mas esse material ainda está em fase de estudos, porque há risco de se partir”, diz o médico – explicando que é importante aguardar pelo menos dez anos de testes e estudos antes de se indicar uma prótese nova.

Lafayette Lage explica que, na cirurgia de Resurfacing, depois de remover a cartilagem danificada, a prótese é encaixada sobre a parte preservada da cabeça do fêmur, restabelecendo exatamente a biomecânica original do fêmur proximal. A outra parte, encaixada no acetábulo como se fosse a casca de uma meia laranja, é fixada na bacia sob pressão. As duas peças são feitas de uma liga de cromo-cobalto e molibdênio extremamente resistentes ao desgaste e a fortes impactos. Com isso, a prótese tem mostrado uma sobrevivência superior a 95% após 20 anos de uso. “Além de preservar a maior parte da articulação e ser bastante resistente, permitindo ao paciente retornar às suas atividades físicas habituais, outra vantagem é a facilidade de uma eventual cirurgia de revisão para a substituição da prótese, diferentemente da prótese convencional. E tem mais: quando bem colocada, essa prótese expõe o paciente a um nível muito mais baixo de cromo-cobalto do que as próteses tradicionais, tendo mostrado redução dos casos de luxação e de infecção – provavelmente, por também ser menos invasiva no osso”.

SOBRE CROMO E COBALTO

Consumido através de alimentos como carnes, grãos (feijão, soja, milho) e alimentos integrais, como massas e açúcar mascavo, o cromo é um elemento químico importante para o organismo, na medida em que regula os níveis de colesterol e glicemia. Já o cobalto é parte da vitamina B12 e é encontrado no leite e seus derivados, em vegetais de folha verde escuro, carne vermelha, fígado, ostras e mariscos. Ele ajuda na formação dos glóbulos vermelhos, combate anemia, e mantém saudável o tecido nervoso. Para aumentar a absorção do cromo e do cobalto durante as refeições, é ideal que os alimentos citados sejam consumidos juntamente com fontes de vitamina C, como suco de laranja, acerola ou abacaxi. O ortopedista Lafayette Lage recomenda que todas as pessoas portadoras de próteses de metal façam a dosagem de cromo e cobalto sérico (no sangue) e alerta que, antes do exame, o paciente deve ficar pelo menos três dias sem ingerir cerveja – já que o sulfato de cobalto é utilizado na fabricação da bebida como estabilizador da espuma.

Comparação entre a prótese total e a Resurfacing